O "Ouro Negro"
O Estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor de petróleo em terra do país. Descoberto por acaso há 30 anos, o ouro negro tem alterado em muito as paisagens e a vida das pessoas do sertão potiguar. Tornou-se sinônimo de riqueza para alguns, mas também é mais um símbolo dos contrastes presentes no Nordeste brasileiro. Há 24 anos, Cosme Ferreira da Silva, saiu com a espingarda em punho para defender sua propriedade. Levou um grande susto quando viu desconhecidos rondando o sítio que havia herdado de seus pais, no município de Alto do Rodrigues, interior do Rio Grande do Norte. Ao perceber que pretendiam avançar cerca adentro, partiu para cima deles. Embora pequena, sua lavoura de milho e feijão era tudo que tinha.
Passadas quase três décadas, o lavrador sorri ao lembrar da confusão que armou quando os técnicos da Petrobras apareceram para fazer as primeiras pesquisas em busca de algo tão cobiçado no mundo e ainda desconhecido para a maioria dos moradores da região, o petróleo. Hoje, o líquido que sai da terra é a base do sustento não apenas de Cosme, mas de milhares de pessoas do sertão potiguar.
"Na CIDADE do Alto do Rodrigues, no Vale do Assu, não faltam EXEMPLOS de pessoas que “ENRICARAM” com o dinheiro dos royalties".
É símbolo de riqueza fácil para alguns, que chegam a receber mais de R$ 100 mil por mês em royalties, o equivalente a 1% sobre o valor do petróleo encontrado em suas terras. Não é exatamente o caso de Cosme, que recebe uma quantia bem inferior pelos 42 poços instalados no seu quintal, mas que, ao longo dos últimos anos, o ajudou a comprar três casas na cidade, colocar (e manter) os filhos na escola e viver uma vida muito mais tranqüila. É um dos exemplos de sertanejos que tiveram sua vida mudada pelo ouro negro.
No ano de 2007, a Petrobras repassou dinheiro para 1.096 proprietários de terras do Rio Grande do Norte, num total de R$ 30 milhões. Este ano espera-se que a marca atinja R$ 34 milhões. Para quem viaja pelo Vale do Assu, onde está localizada Alto do Rodrigues, cidade com pouco mais de nove mil habitantes, não faltam exemplos de pessoas que “enricaram” com o dinheiro dos royalties. Em alguns casos, a natureza foi bastante generosa, e as suas fazendas chegam a ter mais de 100 poços, embora a quantidade de poços nem sempre tenha relação direta com sua rentabilidade.
Quem chega ao Vale do Assu, região abarrotada de cavalos-de-pau, facilmente percebe essa realidade – plantações de banana e mamão (as mais lucrativas) misturam-se à flora da caatinga. Gerson Pereira da Silva, técnico da Petrobras, conta que ao final da safra é feita uma avaliação da produtividade de cada propriedade, de acordo com os índices de mercado. “Dessa forma, a servidão gera um verdadeiro círculo virtuoso entre os proprietários, pois os incentiva a investir cada vez mais na produtividade da terra, em melhores sistemas de irrigação e, assim, aumentando mais seus ganhos e investindo mais e mais, sucessivamente”, esclarece Gerson.
MAS NÃO É SOMENTE a história de vida de quem tem o petróleo em suas terras que mudou. Cidades inteiras tiveram os seus destinos alterados, já que o bolo é dividido com o governo estadual e as prefeituras de 93 municípios que recebem os repasses, sendo que 15 deles são efetivamente produtores de petróleo e gás – Macau, Mossoró e Guamaré são os que mais se beneficiam dos recursos.
Alto do Rodrigues, cidade onde vive Cosme, está em sexto lugar no ranking – recebeu mais de R$ 4,6 milhões em 2006. No total, as administrações estaduais e municipais receberam R$ 325,77 milhões.
Outro fator importante é a geração de empregos. Um grande número de empresas migrou para a região com o objetivo de prestar serviços ligados à exploração de petróleo. É talvez um dos poucos lugares do Brasil onde se ouve pessoas dizendo que não falta emprego. Mais de 80% da população está direta ou indiretamente ligada à renda do petróleo, e é fácil perceber o fato pela movimentação matutina de ônibus e microônibus que levam os funcionários para as regiões onde há centrais de exploração.
ESSE AQUECIMENTO econômico também se reflete nos índices de desenvolvimento. Nos últimos 20 anos, Alto do Rodrigues teve um aumento considerável do seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), passando de 0,30 para 0,68. A vizinha Carnaubais, com um pouco mais de sete mil habitantes, é a que representa o maior crescimento nesse sentido, indo de 0,25 para 0,65. No entanto, é necessário lembrar que índices entre 0,50 e 0,79 ainda são considerados apenas medianos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ainda há muito a ser feito.
Outro exemplo é Mossoró, cidade de 215 mil habitantes, a 277 quilômetros de Natal, que recebe a maior parte dos repasses – foram quase R$ 25 milhões em 2006, o que vem tornando o município uma referência de qualidade em todo o Estado. Aliás, foi ali que tudo começou: no ano de 1977, quando perfuravam poços para construir um balneário de águas quentes, o que encontraram foi um líquido preto viscoso. Onde era para jorrar água, jorrou petróleo.